terça-feira, 31 de março de 2009

Celso Furtado: a Paraíba é uma miniatura do Nordeste

Vejam que pérola do velho Celso Furtado: "O estado da Paraíba constitui de alguma forma uma miniatura do Nordeste, pois ali estão representadas de forma equilibrada as três áreas que definem o perfil ecológico regional. Em primeiro lugar está a faixa úmida litorânea dominada secularmente pela monocultura canavieira. Em seguida mostra-se a área agreste intermediária, tradicionalmente caracterizada pela policultura. Por último, cobrindo metade da superfície do estado e conferindo cerca de metade da população, perfila-se a área sertaneja, onde uma pecuária extensiva se integra com atividades agrícolas comerciais e de subsistência. (...) Uma observação mais detida da economia desse Estado talvez seja a forma mais fácil de captar o essencial da problemática nordestina." (Furtado, Celso - A nova dependência. Paz e Terra, 2ª ed., p.141, Rio de Janeiro, 1982)

Ainda sobre a Paraíba e suas lideranças políticas:
"Os adversários das mudanças não tardaram em perceber que o caminho mais curto para alcançar seus objetivos consistia em privar-me da confiança do presidente [João Goulart]. Concentraram em mim as baterias pesadas. O senador paraibano Argemiro de Figueiredo, com base eleitoral na cidade de Campina Grande, cujo comércio era tradicionalmente ligado à indústria da seca, iniciou uma campanha de difamação pessoal contra mim, 'astuto economista, empenhado em bolchevizar o Nordeste'. Recordava-me de que, em minha época de estudante do Liceu Paraibano, o então interventor do Estado, Argemiro de Figueiredo, recebera da classe comerciante de Campina Grande, como presente de aniversário, uma bela mansão, evento que havia chocado minha consciência política de adolescente. Não seria com o apoio dessa gente que transformações reais teriam lugar no desvalido Nordeste. Não contasse eu com a simpatia de boa parte da imprensa as grandes capitais do Centro-Sul, e minha imagem de homem público teria sido seriamente enodoada." (Furtado, Celso - A fantasia desfeita. Paz e Terra, 3ª ed., p. 67, Rio de Janeiro, 1989.)

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